Quando o engenheiro civil Alberto Silva assumiu o Governo do Estado do Piauí, em 1987, a saúde financeira da máquina administrativa não era das melhores. Faltavam recursos para investimentos diversos e, até mesmo, para honrar a folha de pagamento do funcionalismo público. Como uma das estratégias para aquecer a economia e render dividendos para o estado, ele tentou por em prática um projeto audacioso e necessário: retomar a navegabilidade do rio Paranaíba, há muito, perdida. O intendo era rever a hidrovia de Parnaíba a Santa Filomena usando um navio graneleiro engenhosamente construído para navegar nas situações do rio daquela época. A embarcação seria equipada com sonares sofisticados, bússolas e computadores de última geração. O objeto primeiro era transportar sal para toda a região do percurso e daí servir como ponte para outras localidades. O navio levaria o sal e voltaria transportando os mais diversos produtos da região. Dentre estes, o milho, o arroz, soja, calcário e minérios.
Após uma série de estudos, a equipe de engenharia, chefiada por um engenheiro de prenome Vidal, projetou um navio de baixo calado, com 48m70cm de comprimento e 9m8cm de largura, capaz de transportar até 200t de produtos, numa velocidade máxima de 18 km/h, ou seja, em torno de 10 nós. Para viabilizar o projeto, como o estado estava em crise, o então governador Alberto Silva, buscou aporte financeiro junto ao BNDES.
O navio foi construído do Estaleiro de Igaraçu, que fica em Parnaíba. Para tanto, contratou-se diversos especialistas que tinham um determinado tempo para execução do projeto inicial, que era a construção de dois navios de igual tamanho e potência. Enquanto isso, o governo intensificou propagandas do projeto vendendo a ideia de viabilidade e redenção econômica.
No princípio de maio de 1988, o primeiro navio ficou pronto. A partir daí tiveram início os preparativos da primeira viagem: data, primeiro percurso, tempo de viagem e mobilização da comunidade através de mídia publicitária.
Dia 10 de maio daquele ano, foi o dia escolhido para a realização da primeira viagem do navio nominado “NAVIO GRANELEIRO FAUSTINO FERNANDES SILVA”, que tinha como destino primeiro, a capital do estado, onde seria apresentado ao público no cais da cidade. Autoridades foram convidadas e uma grande festa foi preparada.
Mas, quase nada aconteceu como planejado. O navio teve sérios problemas no percurso, não chegou na data marcada e uma boa parte das 200t de sal que transportava foi distribuída para população ribeirinha, visando deixar a embarcação mais leve. Depois de algum tempo, o tão esperado navio foi apresentado ao público da capital.
Depois de apresentada ao público de Teresina, a Barca do Sal, como ficou conhecida, tentou chegar ao seu último destino, que era a cidade de Santa Filomena. Apenas tentativas. Foi numa dessas tentativas que ela terminou por atracar ao lado da CODIPI, o então Entreposto Pesqueiro de Uruçuí. Ali permaneceu por algum tempo sendo visitada por centenas de pessoas, depois foi levada para um destino não publicado.
Portanto, o Navio do Sal foi um projeto que demandou muito tempo, recursos públicos, alimentou sonhos, mas, de fato, não chegou a ser uma realidade. A primeira e única carga que transportou, 200t de sal, não conseguiu chegar nem em Teresina com a sua totalidade. E, com a malograda experiência do primeiro navio, a construção de uma segunda unidade foi abortada. Sendo assim, o assoreamento do Velho Monge, infelizmente, venceu a engenharia moderna e o sul piauiense perdeu a última oportunidade de ter um navio navegando em suas águas.
Fonte:
Professor Anchieta Santana
Historiador Uruçuiense