Após a Primeira Grande Guerra Mundial(1914-1918), a situação política, social e econômica dos brasileiros não estava boa e nem apresentava sinais de mudanças. As políticas públicas não recebiam a devida atenção e eram restringidas a poucos. A classe operária, que vivia oprimida, começava a dar sinais de reação contra a forma como era tratada.
Dentre outros, um grande movimento que foi denominado Greves Operárias paralisou a cidade de São Paulo em julho de 1917. Entre as reivindicações estavam: melhores condições de trabalho, aumento salarial, redução de jornada de trabalho e outras garantias trabalhistas. O movimento grevista teve adesão dos servidores públicos e se espalhou pelo país. O comércio não funcionava e os transportes pararam. O governo, mesmo usando a força militar, não conseguiu sufocar o movimento que teve 50.000 adesões.
E nessa onda reativa outros movimentos sociais foram se desencadeando em várias partes do país. E mais, em 05 de julho de 1922, num estado de conspiração militar, rebelaram-se o Forte de Copacabana e a Escola Militar. Esta, após pequena marcha pelo Realengo foi reprimida, aquartelada e sacrificada sob forte comando militar. Foi um episódio que repercutiu fortemente no seio das Forças Armadas. A partir dali se descortinava o descontentamento social até mesmo dentre aqueles que serviam em nome da ordem militar. Outros episódios deram continuidade ao processo de revolta contra as autoridades que dirigiam o destino do país.
Em 14 de abril de 1925, organizou-se uma força que ficou conhecida como Coluna Prestes, em homenagem ao líder Luís Carlos Prestes. O objetivo primeiro da coluna era desestabilizar o governo do então presidente Artur Bernardes. Este, na visão da jovem oficialidade, contrapondo com os velhos oficiais, representava a estagnação social e o atraso na gestão pública.
A coluna, que era composta por destacamentos do Rio Grande do Sul e de São Paulo, foi reorganizada e Prestes assumiu a chefia de Estado-Maior da Coluna. Além destes, muitos voluntários fortaleceram a Coluna em dezenas de cidades tomadas pelos revoltosos. Ser parte de coluna era uma tarefa que exigia muito preparo físico, resistência e determinação. Passar fome, sede, ficar ferido e/ou morrer passou a ser normalidade nas longas cavalgadas. Às vezes, dezenas de membros eram mortos pela força governista.
A Coluna Prestes com uma média de mil e quinhentos homens, percorreu 25.000 quilômetros e, em quase dois anos e meio, atravessou 11 estados. Prestes realizou várias palestras, manifestos e outros movimentos com o objetivo de denunciar à população a situação política e social que sufocava o país. “O Libertador” foi um dos periódicos usados pela coluna para divulgar ideais e os resultados das batalhas.
A Coluna Prestes invadiu a cidade de Benedito Leite(MA), no entardecer do dia 07 de dezembro de 1925. Ali, os comandados do Secretário de Estado da Polícia do Piauí, Primeiro Tenente do Exército Nacional Jacob Manoel Gayoso e Almendra prepararam trincheiras e houve intenso embate entre os revoltosos e governistas, que durou mais de 10 horas. Um embate à distância. Como resultado, os governistas foram derrotados e bateram em retirada de volta a Uruçuí.
Registra os anais da história que, de forma vergonhosa e desnorteada, as tropas legais, composta por mais de mil homens, após sofrerem humilhante derrota nas trincheiras da cidade de Benedito Leite(MA), fizeram a travessia do Rio Parnaíba e, chegando em Uruçuí(PI), alguns conseguiram cortar as cordas que prendiam os barcos e fugiram rio abaixo; outros, não esperaram tanto, saíram a correr pela mata ribeirinha e desapareceram. Nem todos chegaram ao destino.
Quando aconteceu o embate em Benedito Leite, esta e Uruçuí já estavam vazias. A população amedrontada com os rumores de aproximação da coluna, fugiu para tocas e ranchos nas proximidades da cidade. Levaram mantimentos para alguns dias. Até o então prefeito, o farmacêutico Erotides Lima buscou esconderijo fora da zona urbana. A igreja católica serviu de QG para a Coluna. Após a passagem da coluna, Erotides Lima enviou emissário montado em burro para, do alto do Morro da Cruz, verificar se ainda era possível visualizar vestígios dos revoltosos. Nesta época a cidade, com apenas 23 anos de emancipação política, se reduzia a poucas casas às margens do Paranaíba. Situação parecida aconteceu em outras cidades.
Algumas estratégias para isolar o inimigo foram tomadas. Fios telégrafos foram cortados para dificultar a comunicação oficial. Com isso aqueles que buscavam sufocar a coluna, ficavam isolados.
Após constatar tranquilidade nas ruas da cidade a população começou a retornar às suas residências e comércios. Ainda assustados, procuravam pelos possíveis destroços deixados pelo rastro da Coluna. Constatou-se que a cidade estava um tanto saqueada.
Como a comunidade estava fora da zona urbana, os saques foram praticados pelos invasores para abastecimento da tropa. As pessoas passaram alguns dias tomadas pelo temor de possível retorno dos chamados “revoltosos”, que tinham se deslocados para o município de Floriano. Mas, aos poucos, a normalidade foi se instalando no município.
Conclui-se, dizendo que Urussuhy foi a porta de entrada da Coluna Prestes no estado do Piauí. E, por conta desse episódio de configuração nacional, o município é citado em vários anais históricos e é mencionado no livro “Cavaleiro da Esperança”, de autoria do baiano Jorge Amado.
Anchieta Santana
Uruçuí-PI