Uma leitura, nem tanto simplificada, do processo de ensino e aprendizagem ambientado em Urussuhy, num período que vai da emancipação política à contemporaneidade, permite a constatação de, no mínimo, três períodos que se adicionam e se locupletam ao longo de cento e dezenove anos. Esses períodos adicionais estão assim abalizados: i)da emancipação política à década de 60; ii)da década de 70 aos anos 80; iii) da década de 90 à atualidade. Alguns recortes dessa história estão registrados em páginas disponibilizadas em suportes diversos: no meio eletrônico, no livro “Uruçuí, Sua História, Sua Gente”, de José Patrício Franco e, também, na obra “Urussuhy, Cidade Menina”, do historiador Anchieta Santana. São anotações que, de certa forma, permitem um entendimento da trajetória educacional uruçuiense.
Nas duas primeiras décadas da emancipação política, o processo educativo resumia-se em minguadas salas de aulas primárias ministradas por professores leigos. O corpo estudantil era um público urbano, seleto e, portanto, diminuto. Como registra José Patrício Franco, na obra supracitada, “a instrução naquela época(…) era rara”. A primeira professora com formação acadêmica só surge em 1915, com a diplomação de Maria Pires Lima. Mas, apenas uma professora graduada não era suficiente para a prática pedagógica. E neste sentido, Maria Pires Lima em discurso proferido em 02 de julho de 1937, registra que atuou por um período de “dezoito[anos] sozinha, sem o auxílio de uma colega que me viesse trazer novas energias, em ambientes que não obedeciam aos modernos preceitos pedagógicos(…)”. Isto, reafirma-se, apenas na zona urbana. A comunidade da zona rural, algo em torno de 80% dos habitantes daquela época, ficava fora desse processo. Apenas famílias mais abastadas conseguiam inserir seus filhos no mundo do ensino e aprendizagem.
As primeiras iniciativas educacionais na zona rural foram custeadas pelas famílias que tinham interesse na alfabetização dos filhos. Era um procedimento precário, não formal e cortado pela irregularidade letiva. Cita-se, a título de ilustração, o trabalho desenvolvido pelo professor Narciso, no povoado Sangue. Como dizem seus contemporâneos, ele era “um professor de poucas letras”. Ali ele alfabetizou dezenas de alunos. Era um processo pedagógico que não ia muito além da alfabetização. Em geral, todos os alunos apenas aprendiam a ler e escrever. Bastava isto. Não existiam perspectivas de continuidade dos estudos.
Por anos a fio o processo doméstico de ensino ficou a marcar passos num quase estado de ramerrão. Apenas 1937 é que o município, com a transformação da “Escolas Agrupadas Professor Froes” em “Grupo Escolar Professor Froes”, ganha a primeira escola estadual. Desta, Maria Pires Lima foi a primeira gestora. E, no princípio da década de 50, com esforços do Pe. Manoel Alves de Carvalho, tem início uma campanha para construção da Unidade Escolar Manoel Leal. Somente a partir da década de 70 é que as unidades de ensino da rede pública municipal, na zona urbana, ensaiam uma mudança de rotina pedagógica. Até então, mesmo já funcionado várias unidades de ensino na urbana e em várias povoações, o ensino não conseguia fugir das amarras de uma rotina enfadonha e quase improdutiva. A razão para que essa situação pouco se alterasse ao longo de quase setenta anos após a emancipação política, era consequência direta da ausência de investimentos em infraestrutura, valorização e capacitação dos profissionais de ensino. Isto criava uma sensação de falta de perspectivas.
Uma anotação estatística feita por agentes do IBGE, de 1971, dá conta de que, dos 54 professores existentes no município, 50% eram contratados pelo município, 40% pelo Estado e 10%, da iniciativa privada. Apenas o Estado contava com professores diplomados.
A educação básica contemporânea ofertada no município conta com uma melhor estrutura pedagógica, profissionais capacitados e com plano de carreira e vencimentos atualizados. Isto, no processo de ensino e aprendizagem ofertado pela rede municipal e estadual. E, também, o setor privado tem dado significativa contribuição ao setor de ensino e aprendizagem. Principalmente na educação básica.
Já o ensino superior que, a princípio teve a Universidade Estadual do Piauí(UESPI) como protagonista, oferecendo cursos de licenciaturas e depois bacharelados, hoje divide esse protagonismo com o IFPI e a Universidade Federal do Piauí-UFPI; além de universidade geridas pela iniciativa privada. E como consequência desse processo acadêmico, a educação no município conseguiu a proeza de ter um quadro de profissionais cem por cento com formação acadêmica.
À guisa de conclusão, é possível afirmar que o processo de ensino e aprendizagem uruçuiense, apesar de um longo período sem muito protagonismo, chega ao século XXI com uma nova formatação pedagógica resultante de uma série de ações. Dentre elas, investimento em infraestrutura, valorização profissional e formação continuada.
Anchieta Santana
Historiador