ARTUR PIRES: A VOZ LÍRICA DOS CERRADOS
O poeta Artur Pires nasceu em 29 de novembro de 1908 e faleceu em 20 de janeiro de 1989. Era casado com Tereza da Silva Pires, com quem teve os filhos:: Ricardo, Edivaldo, José, Elza e Adonivaldo. Este faleceu com 1 ano, 10 meses e 4 dias de vida. Foi um fato que recorrente na literatura de Artur Pires. Este, ao longo de algumas décadas, produziu uma literatura que, pela qualidade e diversidade de suas peças, enobrece a cultura uruçuiense.
O canto poético de Artur Pires é intensamente marcado por traços tecidos com um lirismo extravagante, mas produzido dentro de uma técnica de versificação seguida por grandes vates da literatura brasileira. É um canto inspirado no seio da saudade e da dor que, dramaticamente, o persegue num ritual de massacre. O poeta, enrustido pela agonia romântica, chora os desalentos dessa severa catênula. Mas, no percurso literário, buscou, quase sempre, num revezamento incontido, o equilíbrio entre o sentimento e a razão. Foi daí que surgiram cantos magníficos, como o poema “A uma virgem”. Neste poema, o poeta, tomado pelos encantos, declama:
“Ó bela que me olhaste, consumida Na luz da Estrela-Vesper, tua irmã Ela nos céus-que é luz e tu, querida Habitante entre nós-que és flor louça”.
E mais, a correção ortográfica, os recursos estilísticos e temática por ele usada, torna seus textos atuais e ritmados.
Para Artur Pires, os seus “entes queridos” serviram de motivação para o traço de uma radiografia literária da marca delineadora da sensibilidade do homem: homem versus homem, homem versus sentimentos, homem versus crença, homem versus espírito, homem versus vida…e nesse processo a sua poética se deixa marcar por uma inexorável vontade de não protelar o registro de seu labor poético que é comparável à genialidade daqueles que abrilhantaram a literatura da fase romântica do nosso país.
Só a arte consegue êxito numa tentativa de explicar a dor publicada nos versos de Artur Pires. Ele canta uma dor que, impiedosamente, o massacra, mas que, por extensão não é só dele. É uma dor universal. E assim ele versa:
“Aos meus amigos, com verdade Afirmo que vivo quase a morrer; Acabrunhado, triste a sofrer As torturas de forte saudade”.
Ao maquinar e/ou rasgar sentimentos nas entranhas da poesia, o vate uruçuiense provoca, conscientemente, uma profunda centralização do “eu poético”, para, depois alçar voos buscando atingir as forças que equilibram as ações humanas entre o bem e o mal, o justo e o injusto, o encanto e o desencanto, o céu e o inferno humano…
Em um texto, poetizando sobre o Engenheiro do Universo, o poeta Artur Pires traçou esses versos geniais:
“Um Ser Onipotente, Soberano Que ergue no espaço os sóis aurifulgente, Ensinando os caminhos refulgentes Ao miserando ser da terra humana Chama-se Deus, lá no celeste plano”.
Numa referência ao poeta baiano, Castro Alves, assim cantou o vate uruçuiense:
“Ó gênio, ó luz, ó primavera em flor! Poeta dos amores, luz dos miseráveis! Amenidade ao escravo, o idílio de amor! Tu foste amigo ideal, miserável entre os miseráveis”.
No prefácio de um conjunto de poemas de Artur Pires, assim escreveu seu grande amigo, Dr. Godofredo Soares Cavalcante, numa análise literária: “É bom cantar quando a alma sente a seiva da mocidade palpitante no seu ânimo! Quando a gente observa o sol por traz dos montes despertando a luz benéfica e milagrosa(…)(Artur Pires) sentiu tudo isso que sentem os poetas, esses entes tão diferentes das outras criaturas, porque sabem interpretar os sentimentos que dormem dentro do coração humano.
Precisamente, em 20 de janeiro de 1989, aos 81 anos de idade, Artur Pires foi convocado para habitar em outra dimensão espacial. Mas um poeta, pela sua arte e genialidade, é impedido de morrer. Morre a matéria, morrem as chagas, mas o espírito poético é avesso à morte-is for eternity. Ele encanta gerações e conquista os ares supremos da eternidade.
Registra-se, por fim, que o uruçuiense Artur Pires, que escreveu poesias, contos, crônicas e textos dramáticos, e leu os melhores autores do romantismo brasileiro, foi também um grande observador da vida social. E dela retirou textos de rara perfeição literária. Ler Artur Pires é navegar em um mundo repleto de emoções, sentimentos existenciais; é também se divertir em textos cômicos e poesias traçadas sob o o rigor da formalidade. Ele deixou dois manuscritos organizados em forma de livro. São eles: “Horas Vagas-Vozes do Meu Coração” e “Açucenas da Mocidade”. São dezenas de textos inéditos que ficaram esquecidos em frios baús, até que, após sua morte, serem descobertos e entregues ao professor Anchieta Santana para análise e publicação na revista Espaço Literário. São textos onde ele canta: o rio, a cidade, o sertão, o povo humilde e sofrido, as crianças, a hipocrisia humana, a problemática social e a espiritualidade. Dentre as temáticas cantadas, nenhuma foi tão recorrente, tão cantada com tanto amor, tanto ardor, tanta saudade, tanto subjetivismo, como a dor sentida pela perda de filho Adonivaldo. E, nesse cantar, ele foi mais poeta do que nunca, cantou a própria dor numa perspectiva plural; ou seja, ele publicou a dor que qualquer ser humano sente quando é atingido no cerne da alma. É possível ouvir na literariedade textual, o choro, não do poeta, mas do homem Artur Pires. Ele é, pois, o orgulho literário de Uruçuí, essa Cidade Menina que o tomou como poeta da melancolia humana.
Anchieta Alves de Santana
Uruçuí-PI