Desde os primeiros passos das movimentações sociais no, hoje, município de Uruçuí, sentia-se uma imperiosa necessidade social de momentos de lazer. Principalmente regado com uma boa produção musical. Mas essa necessidade não foi saciada de forma rápida. Somente vários anos após a então Villa de Urussuhy ser, politicamente, emancipada, foi que surgiram iniciativas visando organizar aquela que seria a primeira banda musical do município. Isto foi há cem anos. Até então, as pessoas buscavam animar suas festividades de forma um tanto improvisada. A comunidade recorria a alguns talentos que faziam uso de instrumentos rústicos para animar os piqueniques, matinês, rezas e outras celebrações.
Os esforços comunitários para organizar a primeira orquestra uruçuiense, segundo o historiador José Patrício Franco, foram suficientes apenas para aquisição dos instrumentos básicos. Mas, ainda faltava um profissional para fazer funcionar a organização musical. Ainda segundo Franco(1980), para efetivar a banda, “veio de fora o mestre Francisco Moura Santos, que foi organizador e primeiro regente da banda “Euterpe Uruçuiense”. Os músicos eram rapazes da localidade, com vocação para a arte musical. Não tardou que as festas fossem animadas pela banda, uma atração muito agradável, que animou e deu vida às reuniões políticas, sociais e familiares.” Ainda segundo o autor referido, por conta da atuação do agrupamento musical, as comemorações festivas passaram a acontecer com mais frequência. E ainda, segundo Franco, Sinharinha e Antonieta, esposa e filha, respectivamente, de Francisco Moura, possuíam dons e virtudes artísticas e eram componentes da banda. Era, portanto, uma família de músicos animando a comunidade uruçuiense nas primeiras décadas do século XX.
Depois, outro artista uruçuiense a montar uma banda musical para animar as atividades sociais em Urussuhy, foi Raimundo Facundo de Sousa(Mundico Facundo). Como ele era maestro, muitos diziam a Orquestra do Mundico Facundo. Ele era filho de João Facundo de Souza. Nas missas, reisados, piqueniques e outros momentos festivos, sempre, lá, estava a orquestra do Mundico Facundo proporcionando alegria. Morreu vitimado pelo vício do álcool.
Sobre o músico Mundico Facundo, a lúcida memória do saudoso José Pereira dos Santos(Zé Delmiro) dá conta que, certa vez, o pároco da igreja local preparou uma celebração religiosa que incluía o músico Mundico Facundo como animador musical. Acontece que na véspera da programação paroquial, o artista estava num estado de embriagues quase permanente. Ao tomar conhecimento da situação, o padre, preocupado com sua programação, dirigiu-se ao artista e, depois e uma boa conversa, pediu que ele desse uma pausa na bebedeira para contribuir na animação do trabalho missionário. Depois de refletir sobre o pedido do pároco, Mundico Facundo prometeu participar do evento. Para surpresa de muitos, ele passou três dias seguidos sem ingerir bebida alcóolica. E, no evento religioso, “tocou tão bem”, que muitos fiéis choraram.
Sobre as celebrações religiosas, na memórias de Luís Lima, filho da professora Maria Pires Lima, “a missa era às 8h, e às 7h30min a “”quebra resguardo” já estava na porta tocando um “dobrado” ou uma “valsa” composto pela família Facundo”.
Segundo a obra “Zizinha e suas Reminiscências de um Uruçuí distante”, Mundico Facundo, de fato, era um profissional que todos queriam participar das festividades animadas por ele; quando não contavam com a orquestra dele, valiam-se do realejo, do pífano e maracás dos amigos que tocavam esses instrumentos tão bem e alegravam o dia todo, nesses encontros.
Conforme mencionado, as primeiras bandas musicais em Urussuhy frutificaram a partir de esforços comunitários e, por muitos anos, foram poucos aqueles que se dedicaram ao mundo musical. Mas, os esforços, a persistência e o talento de alguns foram suficientes para fazer uma semente musical germinar e transformar-se um marco histórico.
Anchieta Santana
Historiador