Num passado um tanto distante, princípio do século XX, viveu em Uruçuí, um homem chamado Julião. Ele era um cidadão um tanto humilde, desprovido de riquezas materiais e sustentado com o suor do próprio rosto; cuidava bem da família e residia onde, hoje, ambienta-se o bairro Água Branca. Além de outros serviços braçais, incluindo aí a lavoura para manutenção da família, ele era “mestre de balsa”. Era um profundo conhecedor dos rios Parnaíba, Uruçuí Preto e Balsas, e, por isto, sempre era requisitado para viagens diversas. Ele era um homem que inspirava confiança e, com responsabilidade, desenvolvia suas atividades.
Mas, certo dia, ao conhecer alguns homens que fizeram promessas tentadoras de “dinheiro fácil”, Julião viu sua vida sofrer uma terrível transformação; como conta Lisbelina, no livro “Zizinha e suas Reminiscências de um Uruçuí distante”,
“(…)Julião, homem já pai de filhos grandes. Encontrou em seu caminho, uns enviados do “demo”, que lhe fizeram a cabeça com promessas de muito dinheiro e pouco trabalho. Era pra fazerem um assalto a um homem rico que eles sabiam que andava com muito dinheiro naquele dia. Só que não ficaram só no assalto, mataram também o pobre homem”.
Como consequência, Julião foi preso e levado para uma cadeia em Benedito Leite-MA; pois, o crime aconteceu em solo maranhense. Ali ele sofreu as mais brutais agressões, apanhou em demasia e foi morto dentro de uma minúscula cela. Como narra Lisbelina(pág.50),
Depois de arrombarem a porta da delegacia, altas horas da madrugada, alguns homens animalados, chegaram até à cela do Julião, e lá, o trucidaram, na maior judiação.(…)Cortaram-lhe a garganta e arrancaram-lhe a língua, quando cessaram de lhe fazer outras perversidades. O carcereiro e alguns presos, comentaram que ele dava gritos horrendos e esturros”
Ainda segundo Lisbelina,
“Lá estava o que sobrou do Julião: Corpo destroçado, garganta cortada e boca que era uma cavidade só, sem língua e horrenda. Os olhos esbugalhados, já sem vida, mostravam o pavor que o pobre homem sentiu até morrer desvalido. Era uma cena chocante, macabra, horripilante, repugnante mesmo”
O corpo de Julião foi sepultado em Uruçuí.
Anchieta Santana
Historiador uruçuiense