Era um certo lugar da terra
Em uma área não habitada,
Havia um ponto onde a gente
Andava sem fazer zoada.
Quem andava, guardava segredos
Porque tinha muito medo
De uma caverna assombrada.
Era uma grande caverna
Cercada de arvoredo,
Ninguém tinha coragem
De tocar-lhe, nem o dedo
Naquele bosque esquisito,
Só andava quem não tinha medo.
E sempre que alguém
Sem querer se aproximou
Da caverna assombrada
A história não contou;
E quem entrou por lá
Não acertou mais pra voltar,
Por lá mesmo se acabou.
Era um lugar sem lei
Com terror de causar medo
Onde o bem não prevalece
Onde o mal acorda cedo
Só a caverna estremecia
E, porque, ninguém sabia
O motivo nem o segredo.
Muitos caçadores que
Se aproximavam do lugar
Se o grupo era grande
Um conseguia voltar
E o resto não saía,
Nunca mais ninguém via
Tinha fim mesmo por lá.
A caverna era repleta
De mistérios e segredos
Cercada de arbustos
Cipós e arvoredos
Havia humana caveira
Quem via dava carreira
Atacado pelo medo.
E quem, sem querer, chegava
Àquele lugar mesquinho
Começava a ouvir rugidos
E, às vezes, o pobre sozinho
Corria de caverna afora
Na vontade de ir embora
Nem acertava com o caminho.
Num ruge-ruge assombroso,
Lá pra dentro da caverna
Com tremendos gemidos
Fazia grande baderna
Que, quem começava a ouvir
Fugia logo dali
Correndo o que dava a perna.
Outros, nem esperavam
Sentiam um remorso mal
Pelo medo que sofria
Corria se atirando em paus
Que o corpo ficava mole,
Que parecia mingau.
E sem saber porque
O medo aperreava
Deixando gente doida
Sem saber no que pensava
Quando a caverna estremecia,
Negro tremendo caía
Que o mijo, o chão alagava.
Às vezes os mais espertos
Fugiam dali correndo
Bastante apavorados
E com um medo tremendo
Enquanto que os mais fracos
Enganchavam em buracos
E terminavam morrendo.
Dizem que muita gente
Que por lá aparecia
Ao aproximar-se da caverna
Rapidamente se tremia
Gelava o corpo por fora
E o coração a mil por hora
Rapidamente batia.
As calças logo pesavam
E as pernas amoleciam
Com o medo de morrer
Todo o corpo se tremia
Acelerava todo o coração
E alagava todo o chão
Com a urina que descia.
Na hora do reboliço
Caía negro de eito
Os medrosos se mijavam
Sem pensar em algum defeito
E os mais duros arrancavam
Pau e pedra, o que topavam
Levavam tudo no peito.
Segundo esta lenda
Na caverna assombrada
Para se passar por lá
Era sem fazer zoada
E com muito cuidado
Para não ser devorado
Por uma fera malvada.
Que há mais de mil anos
Fazia a sua morada
Lá no fundo da caverna
No meio e na entrada
Para ninguém entrar
Para não desencantar
Uma donzela encantada.
Há mil e duzentos anos
Dormia esta donzela
Para nunca se casar
Com alguém do gosto dela
E por isto uma fada
Deixou a princesa encantada
Para ninguém, unir-se com ela.
Pois a princesa já esteve
Prestes a se casar
Com o príncipe que escolheu
Para sempre lhe amar
Mas devido uma fada
Que a deixou encantada
Ela não pode se casar.
É que a bruxa feiticeira
Preparou uma cilada
Pegando a princesinha
E levou-a enganada
Pra passear com ela
E conhecer a casa dela
Antes de ela se casar.
E levou a princesinha
Bem pra longe do reinado
E com uma corrente mágica
Deixou seu pescoço enrolado
Achando o suficiente
Pra que eternamente
O feitiço não ser quebrado.
E todo o mistério
Da caverna assombrada
É que naquele lugar
Foi onde a bruxa malvada
Transformou um reinado
Num lugar mal-assombrado
E a princesa encantada.
E o motivo do feitiço
É que a bruxa malvada
Também esteve noiva
E preste a ser casada
Mas chegando o momento
Da hora do casamento
A bruxa foi dispensada.
O seu noivo a dispensou
Quando viu Linda Bela
Uma princesa formosa
Verdadeira donzela
E a bruxa revoltada
Deixou Linda Bela encantada
Pra o príncipe não se casar com ela.
E transformou se num cachorro
Em uma fera malvada
Vigiando a princesa
Que estava transformada
Presa numa corrente amarela
Que deixava Linda Bela
Pra sempre acorrentada.
E por isto no lugar
Era um problema sério
Um lugar mui diferente
E repleto de mistério
Era grande aleivosia
Que muito mais parecia
Fantasma em cemitério.
Muita gente, até lá, foi
Mais não conseguiu voltar
E os que viam a fera
Tinham medo de brigar
E aquele mais destemido
Quando ouvia o gemido
Só faltava se acabar.
Cabra mole, nem se fala
Não esperava nem pra ver
De que cor era a fera
Cuidava logo em correr
Na vontade de ir embora
Saía de caverna a fora
A ponto de enlouquecer.
E isto porque nem via
Quem dava aquele gemido
Apenas chegava a ouvir
O assombroso ruído
Isto era o suficiente
Para que toda gente
Corresse no mundo perdido.
Trataremos de um rapaz
Que chegou neste lugar
Sem querer viu a caverna
E pensou logo em entrar
Naquele lugar estranho
Para ver o tamanho
E o que havia por lá.
Entrou de caverna a dentro
Bastante desconfiado
Aprofundando a viagem
Ficou todo arrepiado
E consigo mesmo pensando
Disse: não estou encontrando
Nada do meu agrado.
Bem no fundo da caverna
Tinha uma repartição
Igual a um quarto escuro
Ou um grande salão
De um lado alguém batia
Ele olhava mais não via
Por causa da escuridão.
E saiu deste lugar
Ali mesmo sem demora
Enxergou uma porta
Que de lá saia fora
E ele bem espantado
E um pouco desconfiado
Disse: eu vou sair agora.
Ele tanto que andou
Estava muito cansado
Ele via tanta coisa
Que o deixava admirado
Muitos retratos ele via
Algo que mais parecia
Com um reinado encantado.
Viu um retrato de um rei
Em uma pedra pendurado
Viu inscrição de rainha
Em um túmulo gravado
Ele lendo a inscrição
Disse isto aqui então
É um reino encantado.
Ao lado de um grande muro
Da caverna, separado
Ele falou: não tenho dúvidas
Que aqui é um reinado
Agora mesmo eu sei
Que isto é coisa de rei
Que há tempo está encantado.
E depois de andar muito
Cansado de caminhar
Ele logo procurou
Um lugar pra se deitar
E quando ele deitou
O sono logo chegou
E começou a ressonar.
E no mesmo instante
Que o rapaz ressonava
Enquanto ele dormia
Ligeiramente sonhava
Que alguém se aproximou
Ao lado dele deitou
E para ele assim falava:
Pedindo por caridade
Me tirem deste sofrer
Que durante muitos anos
Vejo meus sonhos morrerem
Por alguém fui encantada
E pra mim ser libertada
Eu espero por você.
Há mil e duzentos anos
Que estou neste castigo
Sofrendo com um feitiço
Que fizeram comigo
Mas se você me libertar
Eu poderei lhe amar
E me casarei contigo.
Eu sou Linda Bela
Uma princesa encantada
Que por meio de inveja
Eu fui enfeitiçada
Em uma corrente amarela
Mas se você cortar ela
Eu fico desencantada.
No meio deste jardim
Há uma fera danada
Que durante muitos anos
Tem minha vida amarrada
Mas se você a derrotar
Poderá me libertar
E eu ficarei aliviada.
Este perigoso monstro
Foi mandado por uma fada
E tem minha sorte presa
Em uma pedra enterrada
Basta você procurar
A pedra e empurrar
Até ficar desencantada.
Depois da pedra fora
Dê mais uma empurrada
E vai aparecer
Uma corrente amarelada
Corte-a e jogue fora
E logo mais sem demora
Eu ficarei desencantada.
E ali naquele instante
Pedrinho logo acordava
Um pouco impressionado
Com a voz que falava
Mas quando ele acordou
Perto de si avistou
Algo que se aproximava.
E foi dizendo rapaz
Agora está enrascado
Quem lhe deu permissão
Para entrar neste reinado?
Pedrinho falou, amigo
Escuta o que eu te digo
Eu não converso fiado.
E sem demorar muito
Mais uma vez falou
Seu monstro horroroso
Derrotar você eu vou
Com este punhal afiado
Vou deixar-te esticado
E mostrar-te-ei quem sou.
Aí o monstro esquentou-se
E disse seu frangote
Os mais valentes que encontro
Eu bato é de chicote
E medroso do teu jeito
Eu piso em cima do peito
Depois eu quebro o cangote.
Para por aí seu monstro
Pois com conversa eu não morro
Vu dar-lhe tanta paulada
Que você pede socorro
Já que és tão valente
Vou te arrancar língua e dentes
E jogar para o meu cachorro.
Mas o monstro disse, coitado!
Não é como pensa então
Em conversa todo mundo
Só diz que é valentão
Vou te deixar todo quebrado
Que não levanta mais do chão.
Pedrinho disse seu monstro
Vou cortar a tua feia goela
Começo aqui na porta
E te jogo pela janela
Aqui neste momento
Porque sou homem por dentro
Igual a coro de moela.
O monstro sorriu e disse
Como tu és tão valente
Vou te dar um bofetão
Que fica todo dormente
O corpo larga do braço
E a cabeça do espinhaço
E a boca larga dos dentes.
E no mesmo instante
Em Pedrinho apregou
Com as garras afiadas
E disse te matar eu vou
E deu logo um pescoção
O rapaz caiu no chão
Que quase desmaiou.
Pedrinho levantou rápido
Ainda atordoado
E o monstro o olhava
De pertinho, lado a lado
Dizendo veja bichinho
Quem entra no meu caminho
Eu deixarei desgraçado.
Venha pra morrer
Levante logo do chão
E Pedrinho levantou
Já com o punhal na mão
E deu no monstro uma paulada
E uma grande punhalada
Que furou o coração.
O monstro não resistiu
E no chão se esticou
Pegando ligeiro o punhal
Mas uma vez furou
E o monstro esticado
Ali no chão deitado
Rapidamente se acabou.
Depois do monstro morto
Pedrinho fitou e sorriu
Limpando o seu punhal
Caminhando saiu
E algo diferente
Ali em sua frente
O rapaz pressentiu.
Caminhando apressado
Pedrinho continuou
De repente uma luz
No seu caminho brilhou
E o que estava à sua frente
Era a dita corrente
Que a princesa encantou.
E ele muito ligeiro
Puxou pela espada
E num lado da corrente
Ele cortou apressado
E desencantou a donzela
A princesa Linda Bela
Que se encontrava enclausurada.
E quando viu a princesa
Caminhando ao seu lado
Ele ficou a olhar
Quase impressionado
Com o tamanho da beleza
Pensou logo: esta princesa
É uma mulher do meu agrado.
Pedrinho olhou tanto
Depois disse pra ela
Vou fazer-lhe uma pergunta
Que está presa em minha goela
Qual o seu nome, por favor?
Ela disse meu amor
O meu nome é Linda Bela.
Ele ali mesmo de pé
Começou a dizer
Tu és a mulher que
Veio pra me enlouquecer
Agora o meu nome chama
E diz pra mim que me ama
Que eu amo até morrer.
Linda Bela respondeu
Falar isto eu preciso
Pois te amar só uma vez
Será grande prejuízo
Quero correr um perigo
Se eu não me casar contigo
Talvez eu perca o juízo.
Também te amo muito
Falou Pedrinho então
Só enfrentei aquele monstro
Pra te tirar da solidão
Mas depois de olhar
Agora quero te amar
E te entregar meu coração.
Linda Bela responda
Sem ter medo do perigo
Já que me ama muito
Te pergunto como amigo
E com voz do coração
Quero saber então
Se você quer casar comigo.
Linda Bela respondeu
Com toda delicadeza
Eu me casarei contigo
Por ter toda certeza
Que você vai se casar
E pra sempre vai morar
Junto com sua princesa.
E aqui neste lugar
Faremos nossa morada
Já que por muito tempo
Fiquei aqui encantada
E por isto eu preciso
Fazer aqui um paraíso
Nosso lugar encantado.
Mas Pedrinho precisava
O fato todo contar
Aos seus queridos pais
E do povo do seu lugar
E como tinha planejado
Levou a noiva do lado
Para o seu povo apresentar.
Chegando lá contou
Tudo que os dois passaram
E com uma grande festa
Os noivos comemoraram
E aproveitando o momento
Logo os dois se casaram.
Depois do casamento
Resolveram convidar
Os velhos pais de Pedrinho
Para com os dois morar
E depois de uma combinação
Que os velhos iam levar.
E os velhinhos adoraram
A ideia genial
Porque morar num reinado
Seria muito legal
Então despediram-se dos vizinhos
Pegaram logo o caminho
Acompanhando o casal.
Chegando no reinado
Viviam bem descansados
Pra sempre foram felizes
Todo mundo emprazeirado
E ali foram viver
Felizes até morrer
Naquele ex-reino encantado.
Não tenho muita certeza
Então não posso falar
O que com eles se deu
Ou já se mudou de lá
Mas vou fazer um livrinho
Quando eu souber direitinho
Se o casal ainda mora nesse lugar.
E aqui minhas palavras
Preciso finalizar
E logo brevemente
Outra história vou contar
Com muita simplicidade
Cheia de docilidade
Pra o leitor se alegrar.
NELCI GOMES(ZOMIN)
Escritor uruçuiense