Ao longo de suas primeiras décadas de emancipação política, a zona urbana de Urussuhy foi vitimada por algumas enchentes que deixaram marcas indeléveis de destruição e, como consequência, provocaram desarranjo social e uma mudança na organização geográfica da cidade. E, também, ocorreram inundações de médio porte que, de certa forma, causaram prejuízos e transtornos para a comunidade. Principalmente os comerciantes e vazanteiros.
Conforme narra o escritor Patrício Franco, em sua obra “Uruçuí, sua história, sua gente”, as principais enchentes que provocaram grandes prejuízos sociais, foram duas: a primeira ocorreu em 1910, e destruiu parte da cidade e da lavoura, contabilizando grandes prejuízos; a segunda, ocorrida em 1926, foi ainda mais devastadora. Nesta, ainda segundo Franco, as águas “subiram rapidamente, tomando inteiramente a rua principal e destruindo as casas ali edificadas”.
Era um tempo em que a cidade resumia-se a um único bairro, que era a beira rio. E, portanto, todas as edificações ali eram ambientadas. Lá, estava a sede do poder executivo municipal, as casas comerciais, a escola ensinando as primeiras letras, a primeira praça, a delegacia de polícia, o “cai n’água” e as residências. Em tese, eram construções frágeis que não ofereciam forte resistência às intemperes sazonais. A imprensa maranhense daquela época publicou que cinquenta casas ruíram em Urussuhy. Foi grande o sofrimento, principalmente para os mais humildes que perderam suas residências e, muitos, até a lavoura ribeirinha. Era um tempo em que as pessoas não eram beneficiadas com as politicas públicas sociais e o poder executivo doméstico tinha recursos financeiros minguados. Restava, pois, a cada vítima da enchente, sofrer as agruras da situação e tentar sobreviver buscando forças para um recomeço.
Como testemunha ocular e vítima, Patrício Franco, à época da segunda enchente, com vinte anos de idade, diz que sofreu “com a família, os efeitos da terrível enchente que destruiu completamente a residência” dos seus pais. E diz mais, “a destruição atingiu ricos e pobres, e toda população flagelada teve que arrancar para o alto, na emergência, com uma mudança precipitada e incômoda(…) cada família, escapada com vida, teve que arcar com os prejuízos, sem nenhuma forma de apelo e muito menos de atendimento dos governos da União e do Estado”
Os habitantes que tinham melhor poder aquisitivo, como os comerciantes, políticos e fazendeiros, imediatamente, trataram de construir novas e modernas residências em áreas altas e afastadas do alcance das enchentes.
Depois dessas duas grandes enchentes, vieram outras, mas a cidade já não estava no mesmo lugar. E, portanto, os prejuízos foram menores. E, a partir de 1964, a área urbana que sofreu com os alagamentos passou a ser parte da represa da barragem de Boa Esperança.
Portanto, 1926 foi o ano da maior e mais terrível enchente que flagelou a cidade de Urussuhy. Um flagelo que, como supramencionado, trouxe sofrimento, provocou superações e a cidade, em tese, foi transferida para áreas inalcançáveis por possíveis novas enchentes. E, ainda citando o mestre Patrício Franco, 1926, de fato, entra para história por conta da temática deste texto, fato ocorrido num tempo em que a cidade ainda estava de ressaca pela passagem da Coluna Prestes por aqui, em dezembro de 1925.
Anchieta Santana
Historiador