Mantenho-me acordado para não te perder de vista. E durmo somente para sonhar contigo.
Foi uma paixão sem fim que sufocou o meu coração e até hoje continua dentro do meu solitário peito. Apesar de hoje eu já com noventa e três anos de idade, não nego a paixão que carreguei comigo e que continuo levando no peito. Atravessado na alma, eu vivo com este segredo até agora. Digo até agora porque a partir deste momento não será mais segredo para ninguém. Aqui eu vou revelar um pouco do sofrimento que vivi a partir do momento que senti, pela primeira vez, as angústias de uma paixão.
Tudo começou em meados do ano de 1940, quando eu estava na cidade do Rio de Janeiro. Naquela época eu trabalhava como ajudante na cozinha de Getúlio Vargas, que era o Presidente da República e o político mais influente e criticado do Brasil. Naquele tempo não era fácil para alguém arrumar emprego na cidade grande, por isto preferi trabalhar de faxineiro e ajudar na cozinha da residência do Presidente Getúlio Vargas. Ali tudo era sossegado, apesar dos agitos que os opositores ao governo apresentavam nas ruas; eu vivia tranquilo e satisfeito com o meu trabalho. A minha cabeça era espetacularmente calma. Isto até quando encontrei uma atraente mulher que por pouco não me deixou alucinado.
Ainda estão vivas em minha memória as lembranças da noite de dezembro de 1940. Eram umas oito horas quando eu estava sentado num banco de uma pracinha que ficava perto da casa em que eu morava. Estava tomando um suco, bem tranquilo, quando chegou uma garota e deu-me boa noite. Foi um cumprimento apenas. Olhando para mim ela seguiu a passear pela praça.
Sem demorar muito ela tornou a voltar ao banquinho em que eu estava. Daquela vez ela não passou olhando para mim, porém chegou e sentou-se na outra ponta do banco.
Sorridente, ela perguntou-me:
__Você espera alguém aqui?
__Não. Estou apenas descansando um pouco. Respondi.
Olhando para mim, sempre sorridente, ela questionou-me, outra vez:
__Qual é o seu nome?
__Eu me chamo João.
__Bonito nome!
No meio do interrogatório ela perguntou, mais uma vez:
__Você tem namorada?
__Não, eu não tenho namorada.
Na hora ela fitou-me dos pés à cabeça e falou:
__Não tem porque não quer, pois um homem tão lindo quanto você, só não namora se não quiser.
Então, falei:
__É, as coisas não são tão fáceis o quanto parece. Pra você tudo parece fácil, enquanto para mim o namoro ainda é uma coisa encantada. Com aquele mesmo sorriso, ela falou meio zombeteira:
__Oh! Seu bobo! Coisa que até as crianças não se intimidam em fazer.
Respondendo, eu disse:
__Por incrível que pareça, estou falando a verdade.
__Sério mesmo?
__Nunca falei tão sério quanto falo agora.
Após um interrogatório longo, ela deixou o outro do banco e veio para bem pertinho de mim. Ali ela pegava na minha mão e colocava a dela por cima. Meio tímido, eu apenas sorria pra ela, enquanto ela se desmanchava toda pra cima de mim. Com um jeito sedutor, eu via que ela apalpava a minha camisa e os meus braços. Sabia que estava sendo seduzido por ela, porém continuava apenas segurando as suas mãos.
Quando ela percebeu que eu era tímido, então se levantou e passou para o lado das minhas costas e ficou alisando os meus loiros cabelos. Com muita vontade de me namorar, ela soltou os meus cabelos e carinhosamente abraçou o meu pescoço. Eu olhava para o chão e via aquele vestido cor de rosa que ela estava usando. Não que o vestido estivesse no chão, mas porque era longo e, além disso, ela se debruçava por cima do meu ombro, fazendo com que eu sentisse o calor do seu corpo macio e sedutor.
Naquelas alturas, eu também já estava prestes a pegar fogo; isto por conta de tantas provocações que ela me fazia. Quando ela cansou de ficar atrás de mim, veio novamente se sentar no banco. Desta vez, sentou-se mais nas minhas pernas do que no banco.
Disposta a me provocar, ela continuou a se esfregar e contar casos para mim.
Depois das nove horas, eu me lembrei de perguntar o nome dela. Com o mesmo sorriso espalhado no rosto, ela disse que seu nome era Maria da Glória, porém o povo só lhe chamava de Glorinha. Para afastá-la um pouco de mim, perguntei quantos anos ela tinha. Ela, encostada em meu ombro, falou que tinha apenas 16 anos. A pequena idade dela fazia com que eu não tivesse nenhum compromisso com ela.
Ali, Glorinha parecia que era uma velha amiga, ou seja, me encarava como se me conhecesse há muito tempo. Ao perceber que eu não queria me oferecer para ela, então falou que estava muito a fim de me namorar. Ouvindo aquela declaração, falei para ela que não dava certo. Glorinha perguntou por que e eu disse que ela ainda é muito nova para mim. Tem apenas dezesseis anos enquanto eu tenho vinte e sete anos.
Por eu falar aquelas palavras ‘dando um fora’ nela, ela ficou meio sem jeito e perguntou se eu estava descartando ela. Foi quando eu disse que não, estava apenas tentando evitar um problema sério.
__Sério por quê? Ela me perguntou.
Respondendo-lhe, eu disse:
__Porque você ainda não sabe nada dessas coisas.
__Namorar? Ah! Meu Deus, como você é bobo. Nem parece que já tem vinte e sete anos, assim como fala. De onde foi que você veio com esse seu jeito tão atrasado? Da roça?
Fiquei meio entusiasmado e respondi:
__Não, eu não vim da roça, mas não é por isso que eu vou criar um problema sério para mim.
Após muito tempo naquela tentativa de sedução, falei pra ela que já estava na hora de ir embora, pois já era tarde. Então ela pediu para eu ir deixá-la em sua casa. Por gentileza, acompanhei Glorinha até à porta da casa dela. Ao chegarmos ela insistiu pra eu entrar. Falei que tinha medo do pai dela. Cheia de graça ela disse:
__Olha, o meu pai não está aqui; ele foi com minha mãe passar o ano novo na fazenda e me deixou aqui para eu ir só no dia 30. Agora, pode entrar, a minha irmã dorme aqui comigo, mas não vai chegar agora.
Desconfiado, entrei com ela e fui à sala onde ela me ofereceu um suco de abacaxi. Depois disso ela levou-me ao seu quarto onde sentou na cama e foi me mostrar um álbum; foi quando me puxou para cama me mandando olhar o álbum, sentado. Com medo que alguém chegasse, fiquei com os pés no chão.
Enquanto eu olhava as fotografias observava que Glorinha não parava de me olhar. Até que certa hora, ela pegou em meus dois ombros e puxou e eu deitei as costas na cama. Antes que me levantasse, ela passou uma das pernas sobre mim e ficou completamente projetada sobre o meu corpo. Irradiando, em mim, seu sensual calor de menina-moça.
Ali conheci que ela estava disposta a fazer amor comigo até o sol raiar. Porém eu tinha medo; não era medo dela e sim dos seus pais.
Glorinha era filha de um homem muito rico. Um dos fazendeiros que residia no Rio de Janeiro. Eu era apenas um dos cozinheiros que trabalhava na casa do Presidente da República do Brasil. Isso era a grande diferença que existia entre nós. Era somente isso que me impedia de manter um relacionamento com Glorinha.
Baseado em um romance proibido, eu tirei ela de cima de mim. Apesar dos nossos desejos, despedi-me de Glorinha e fui pra casa sem gozar daquele corpo macio de menina faceira.
Quando cheguei em casa, não tinha mais sono. Os olhos pareciam ter secado de vez. Já era madrugada e o sono não vinha. Quando fechava os olhos, parecia que estava vendo Glorinha na minha frente. Ao mesmo tempo, estava ouvindo aquela voz de cochicho que ela fazia enquanto estávamos deitados em sua cama. Depois de muito tempo acordado, fui surpreendido pelo sono. Acordei no dia seguinte com uma das cozinheiras que trabalhava comigo batendo na janela pra me acordar.
Ainda sonolento, levantei e fui trabalhar; já que minha presença era indispensável no trabalho. O serviço não era pesado, porém muito cansativo e era preciso muita concentração.
No primeiro andar da casa era o local onde eu trabalhava, pois lá ficava o restaurante onde eram distribuídas muitas marmitas por dia. Ali, distraído, deixei um copo cair bem na hora em que o presidente Getúlio Vargas chegou ao restaurante. Com otimismo, ele me perguntou se eu ainda estava com sono ou se estava dormindo. Então, virei-me para ele e disse: talvez as duas coisas juntas são os meus problemas. Novamente ele perguntou se eu não estava bem. Eu respondi que estava com dor de cabeça. Então ele mandou que eu tomasse um calmante e voltasse para casa enquanto melhorasse.
Foi então que eu fui para casa dormir, enquanto Getúlio Vargas, o meu patrão, havia saído para visitar uma Companhia Siderúrgica Nacional que havia sido recém-inaugurada em Volta Redonda.
Na minha casa ainda continuava pensando nos momentos da noite anterior. Fechava os olhos para recordar melhor o sorriso gracioso de Glorinha. Para mim parecia que estava sonhando o sonho mais lindo de minha vida. Naquele momento não sabia se estava feliz por ter rejeitado uma linda jovem menor de idade ou se estava arrependido de não ter deixado o sexo rolar a noite inteira. É, não sei, talvez se fosse hoje as coisas poderiam ter sido diferentes.
O certo é que depois de descansar por um dia inteiro, no dia seguinte estava de volta ao meu serviço, onde as lembranças de Glorinha, hora por hora, batiam no pensamento.
Passado uma semana, já estava bem mais concentrado. Afinal de contas eu evitava sair à noite justamente para não encontrar-me com Glorinha.
Como eu morava bem próximo à praça onde tudo começou, de lá enxergava a meiga sedutora, todas as noites, passeando por lá. Da minha casa apenas ficava olhando para ela da minha janela. Às vezes sentia aquela vontade de ir até onde ela estava e declarar que estava perdidamente apaixonado. No entanto, engolia a minha ansiedade, enquanto que a angústia ficava presa na minha garganta. Não era fácil para mim viver aquela paixão que por pouco não me fazia perder o juízo.
Para aumentar minha tensão, Glorinha descobriu onde eu morava. Durante o dia ela não andava porque eu trabalhava, porém, à noite, por pouco ela não me deixava dormir.
E como eu também estava apaixonado, permitia que ela ficasse até tarde em minha casa, afinal de contas, morava sozinho. Mesmo sem nenhuma relação entre a gente, muitas vezes Glorinha dormia em minha casa. Eu procurava sempre dormir de costas pra ela. Isto porque tínhamos que dormir na mesma cama, já que só tinha uma. Para evitar que fizéssemos amor, procurava ficar o máximo possível longe dela. Enquanto que ela virava a minha frente para a sua, para que ficássemos de barrigas coladas uma na outra.
Às vezes o travesseiro que eu colocava entre nós amanhecia molhado do suor do seu corpo, enquanto ela lutava comigo afim de me convencer a ceder-lhe um momento de prazer como mulher.
A experiência que ela queria ter comigo, eu fazia o possível para que nada acontecesse; afinal de contas, ela era apenas uma adolescente motivada por uma sensação excitante. Além do mais, Glorinha era filha de rico, enquanto eu não passava de um cozinheiro.
Com o passar do tempo, Glorinha foi ganhando maturidade. Mesmo assim ela não desistia de mim. Parecia que ela tinha certeza de que um dia eu seria dela. Desviando como podia, eu continuava na mesma rotina. Logo mais, quem sabe, diminui o seu jeito de perseguir. No entanto, era eu quem não queria mais perdê-la de vista.
Quando foi no dia 10 de julho de 1943, recebi na minha casa um convite que Glorinha me mandava para o seu casamento. Ao ler aquele doloroso convite, parecia que a vida não seria mais nada para mim. Angustiado, rasguei o convite e caí na cama querendo esquecer tudo. Ao mesmo tempo chorava arrependido de não ter me casado com Glorinha. Ah! Era tarde demais para eu chorar o leite derramado. No meio da noite ainda cheguei a sair para ir até a casa dela para implorar que ela não se casasse. No entanto, voltei para cama.
Angustiado, passei a noite em claro, sem sono e sem vontade de viver. Nas ruas havia barulho de pessoas em passeatas. Eram os estudantes que faziam protesto em frente a casa do Presidente da República do Brasil, Getúlio Vargas, fazendo greves, ou seja, eles reivindicavam direitos salariais.
Enquanto eu chorava por ter entregue de mão beijada a mulher que eu amava.
Com a cuca encharcada, mais uma vez amanheci o dia. Desta vez sem sono, apenas com uma ferida no peito, que parecia que o meu coração tinha se espedaçado. O meu desespero era grande e a vontade de ter Glorinha não me saía do pensamento. Acreditava que ainda era tempo de recorrer a ela e revelar que a amava muito, entretanto não fiz isto.
No dia seguinte fui até a pracinha para ver se Glorinha aparecia por lá. Claro que ela apareceu acompanhada do seu novo namorado, ou melhor, do seu noivo.
No banquinho de sempre eu estava na expectativa de ver minha deusa. Quando eu menos esperava ela chegou e me cumprimentou. Apresentou-me ao seu noivo, deu um aperto em minha mão e saíram em busca de outro banco. No momento que ela apertou minha mão, senti um aperto no meu coração. De outro banco da praça, Glorinha olhava pra mim, enquanto eu somente recordava com saudades os bons momentos que eu tive com ela, principalmente o nosso primeiro encontro.
Cansado de espiar os dois, voltei para casa onde fui pensar em muitas coisas. Ora, eu pensava em esperar o casamento de Glorinha, ora eu pensava de voltar para o Piauí, já que era minha terra natal. Naqueles momentos só pensava em voltar para Uruçuí, pra junto de meu povo. O que eu não queria era sofrer tanto perto da mulher que eu amava e vendo-a nos braços de outra pessoa.
Decidido a vir para cá, para Uruçuí, fui até ao meu patrão, Getúlio Vargas, e pedi demissão do serviço. Preocupado, ele me perguntou porque queria largar o emprego. Ainda tenso eu falei pra ele todos os motivos, inclusive que a mulher que eu amava estava prestes a se casar com outro.
Com jeito de conselheiro ele me falou não se preocupe, isso são coisas que acontecem em nossa vida e faz parte do nosso dia-a-dia. Agora nada de demissão. Vá trabalhar e logo mais tudo isso vai passar. Dizendo essas verdades para mim, Getúlio Vargas saiu com alguns papéis na mão; ele estava indo para um programa de rádio, provavelmente fazer discurso para acalmar os opositores, os proprietários de terra, a burguesia comercial, os profissionais liberais, que na época se organizavam no partido de oposição ao governo, a UDN.
Depois de ouvir o conselho do Governo, resolvi continuar no Rio e esperar pra ver o casamento de Glorinha, que não demorou muito.
O seu noivo era um estudante de engenharia, mas que tinha a vocação para locutor de rádio, já que naqueles tempos radialista era considerado uma boa profissão. O nome dele era Marcelo; ele participava de shows de calouros que aconteciam na Rádio Tupi, de são Paulo. Apesar dele morar no Rio.
Marcelo não via a hora de casar com Glorinha e ficava na expectativa de ganhar o concurso de calouro. Assim como eu, Marcelo vivia angustiado e ansioso pelos objetivos. Arrumar um casamento com uma mulher tão linda como Glorinha não era para qualquer um.
Depois de tanta ansiedade, finalmente Marcelo teve duas alegrias: uma era seu casamento anunciado e a outra foi a passagem para a final do concurso do show de calouros. Por grande coincidência a data do seu casamento seria no mesmo dia que ocorreria a grande final do concurso.
Até que finalmente chegou o bendito dia 15 de agosto de 1943. Naquele dia parece que o dia amanheceu mais cedo. Eu com as pernas trêmulas levantei e fui trabalhar. O casamento estava marcado para as nove horas. Voltei para casa às oito horas para poder ir ao casamento.
Ainda tenso, fui assistir a cerimônia, embora nervoso achei bonita. Mas doeu muito na minha alma quando Glorinha, olhando para mim, disse ao padre que aceitava Marcelo até que a morte os separassem. Aquelas palavras foram punhaladas no meu coração. Eu não acreditava que tudo aquilo era verdade. Não sei, pra mim a vida não parecia ter mais valor.
Finalmente a cerimônia chegou ao fim; com muita angústia saí da igreja e fui diretamente para minha casa. Os outros convidados foram para casa da Glorinha comemorarem o casamento, mas eu não tinha motivos para comemorações.
Para não causar tanta ausência, à tarde fui dar meus parabéns aos noivos. Lá, vi Glorinha chorando de mãos dadas com o seu esposo. Ao me ver ela se levantou e me deu forte abraço no pescoço. Já eram três horas da tarde e o Marcelo avisava aos convidados que teria de sair para São Paulo, onde, às dezenove horas, participaria do final do concurso de calouros. Marcelo, então, agradeceu aos convidados e foi para São Paulo.
Aos poucos os convidados foram se retirando, desejei boa sorte a ele e fui embora. Em casa eu tentava me concentrar e esquecer Glorinha. No entanto lembrava ainda mais de seu sorriso e de suas tentações.
Logo que chegou a noite, fechei a porta para me recolher, pois apesar de ainda cedo, queria dormir. Queria esquecer o passado e sonhar com um futuro mais alegre. Fui ao meu quarto, peguei uma toalha de banho e fui ao banheiro para refrescar minha cabeça.
Quando estava tomando banho ouvi bater na porta. Ao abrir a porta da casa dei de cara com Glorinha que, enquanto Marcelo estava para São Paulo, ela veio a minha casa pedir desculpas por ter se casado. Então falei pra ela entrar e me esperar na sala enquanto eu vestia uma roupa; já que eu tinha apenas uma toalha em volta do meu corpo.
Logo que entrei no quarto, ela entrou junto comigo. Conversando muito, ela não deixava eu botar uma roupa para podermos conversar. Olhando atenciosa pra mim, ela sentou-se em um ladinho da cama e eu no outro. Dizendo está arrependida, pegou em minha mão e puxou-a para cima de suas pernas. Ali me abraçou bem forte provocando em mim uma grande sensação. Excitado, eu comecei a tirar suas roupas para sentir melhor o calor do seu corpo adolescente. Como eu estava apenas enrolado em uma toalha, não foi difícil para mim, jogá-la fora. Movido por uma incrível excitação, eu fiz amor com Glorinha pela primeira vez. Naquela hora, Glorinha estava passando pela sua primeira experiência como mulher. Enquanto Marcelo lutava para ganhar o concurso dos seus sonhos, eu estava na minha casa com a mulher mais linda do mundo na cama.
Apesar de Glorinha não ter casado comigo, naquela noite eu estava muito feliz, afinal eu tive a honra de fazer amor com Glorinha no dia de seu casamento e antes do seu esposo.
Após aquela noite de glórias, Maria da Glória, glorificou a minha consciência e marcou para sempre minha vida.
Depois daquela noite, eu nunca mais transei com Glorinha, embora ela sempre me procurando, mas eu sempre evitando um contato entre nós. Não era por falta de amor, mas sim por opinião que fazia para evitar um desmanche em seu casamento.
Apaixonado, eu vivi mais onze anos perto de Glorinha, mesmo sem tocar mais em seu corpo; eu fiquei lá até no ano de 1954, quando por motivos de pressão política, em 24 de agosto daquele ano, o meu patrão, Getúlio Vargas, cometeu suicídio com um tiro no coração.
Após a morte de meu patrão, eu deixei o meu emprego de cozinheiro. Desempregado, fui obrigado a deixar o Rio de Janeiro. Até hoje eu me emociono quando me lembro daquela manhã. Era 15 de setembro de 1954. Na estação, dei o último abraço em Glorinha e fui embora para sempre. Até hoje eu não tive mais notícias dela.
Ao nos despedirmos pela última vez, ela, carinhosamente, disse-me:
__Vou me manter acordada para que um dia eu possa te ver.
Respondi-lhe:
__Fique acordada e deixei-me dormir, para sempre eu sonhar contigo.
Ali no vagão do trem, ela molhou o meu ombro com suas lágrimas, enquanto que, soluçando, eu beijei suas mãos e disse-lhe:
__Adeus minha querida! Adeus!
Ali foi o fim do nosso romance, mas o sonho que eu prometi a ela, até hoje mora comigo.
(O autor se vale da função do personagem principal(Cozinheiro de Getúlio Vargas) para relatar um caso passional.)
Nelci Gomes(Zomin)
Escritor uruçuiense